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Projeto da UFFS abre as portas do curso de Agronomia para assentados

Um projeto desenvolvido pelo campus de Erechim (RS) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) vem abrindo as portas do ensino superior para jovens e adultos moradores de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Realizado no Instituto Educar, de Pontão (RS), e financiado pelo Incra, o projeto integra o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).

“A Fapeu atende a necessidade de apoio nas gestões administrativa e financeira, viabilizando, por consequência, agilidade e presteza no atendimento das necessidades do projeto. Além disso, os processos de contratação de serviços de pessoas físicas e jurídicas são mais céleres”, destaca a coordenadora do projeto na UFFS, professora Tarita Cira Deboni.

 

AGROECOLOGIA

 

Além de moradores de assentamentos, a turma especial do curso de graduação em Agronomia com ênfase em agroecologia também é aberta a quilombolas, trabalhadores acampados cadastrados no Incra e beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário. “O projeto reforça o compromisso político e social da UFFS com este público e atende a demanda dos movimentos sociais do campo, propiciando aos estudantes o acesso a um curso de graduação em universidade pública”, observa Marcelo Ronsoni, técnico de apoio do projeto.

Agroecologia é a ciência de ênfase do curso e apresenta aos estudantes uma forma de produzir alimentos saudáveis associados à preservação ambiental, buscando o redesenho de todo o sistema de produção. 

Na Universidade Federal da Fronteira Sul, a oferta do curso de Agronomia via Pronera começou em 2014. Nestes 10 anos foram abertas quatro turmas, com duas delas já concluídas e com taxas de conclusão acima de 85% - um índice superior aos cursos regulares oferecidos pela UFFS.

Somente nas primeiras formaturas ocorridas nos anos de 2018 e 2020, a iniciativa proporcionou a formação de 97 engenheiros agrônomos preparados para atuarem em cooperativas e assentamentos ligados à reforma agrária. Com 36 alunos, a terceira turma deve se formar em março de 2025.

Um dos formandos será o agricultor Celso Ribeiro Barbosa Junior, morador do assentamento Sepé Tiaraju, em Santa Tereza do Oeste (PR). Em março de 2024, ele foi um dos três alunos que apresentaram Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) para avaliação de bancas que contaram com a participação de professores da UFFS e de outras instituições de ensino superior.

 

CULTURA DA SOJA

 

O tema abordado por Junior foi “Análise Econômica da Produção de Soja em Sistemas de Produção de Base Agroecológica e Transgênica”, no qual estudou mudanças para a produção convencional da cultura. “Precisamos muito disso. Quais alternativas podemos entregar? Não dá para romper o paradigma abruptamente. Com a produção agroecológica, reduzimos impactos para fazer uma transição nas áreas de reforma agrária”, afirmou o jovem.

Já as aulas da quarta turma especial do curso de Agronomia começaram em maio de Com 50 vagas e alunos de 12 estados, o curso vai se encerrar em dezembro de 2026. 

“O objetivo do projeto é formar engenheiros agrônomos, oriundos das áreas de reforma agrária e agricultura familiar, na metodologia da Alternância Pedagógica, com capacidade de contribuir na implantação de uma matriz. As aulas teóricas e grande parte das atividades práticas são realizadas nas salas do Instituto Educar, no município gaúcho de Pontão. No total são 4.530 horas/aulas produtiva com enfoque na sustentabilidade, na produção de alimentos saudáveis e na geração de renda”, ressalta a coordenadora do projeto.

 

ALTERNÂNCIA

 

Com estatísticas oficiais apontando que apenas 5,5% do público-alvo da iniciativa consegue chegar ao ensino superior, a metodologia da Alternância foi adotada pelo Pronera como uma maneira de atender à população das áreas de reforma agrária e agricultura familiar sem que tenham a necessidade de abandonar as atividades agrícolas.

O regime da Alternância Pedagógica é caracterizado pela articulação planejada entre os dois tempos formativos que atravessam a vida do estudante, que são o Tempo Universidade (TU) e o Tempo Comunidade (TC), viabilizando, dessa forma, a capacitação profissional e a permanência dos trabalhadores e trabalhadoras no projeto sem maiores prejuízos a sua continuação no mundo do trabalho.

“O egresso do curso de Agronomia da Universidade Federal da Fronteira Sul, vinculado ao Pronera, deverá ter capacidade técnica e científica para atuação profissional em todas as áreas da agronomia, considerando valores humanísticos, princípios éticos, capacidade de comunicação e de desenvolvimento de metodologias dialógicas, visão socioambiental e econômica e capacidade de trabalho em equipe e de desenvolvimento de pesquisa de realidades rurais”, pontua Marcelo Ronsoni.

 

PROCESSO SELETIVO

 

O acesso ao curso ocorre por processo seletivo específico aberto por edital publicado pela UFFS. A formação tem duração de 10 semestres, com 4.530 horas/aulas. São oferecidas 45 disciplinas, além de viagens de estudos, atividades de integração e oficinas e práticas de extensão entre outras atividades.

As aulas presenciais teóricas são realizadas no Instituto Educar, em Pontão, bem como a maioria das aulas práticas. Apenas algumas práticas, aquelas em que é necessária a utilização de laboratórios, ocorrem no campus de Erechim da UFFS.

“Esse processo de capacitação traz resultados diretos e indiretos. Diretamente, pois prepara pessoas que serão tecnicamente capazes de agir sobre determinada realidade produtiva e organizativa de um assentamento. E indiretamente porque estas pessoas, por terem uma preparação diferenciada, apresentam grande capacidade de formação de opinião e podem estar desenvolvendo processos organizativos e produtivos em seus municípios e em suas comunidades”, observa a professora Tarita Deboni. “Este projeto viabilizado pelo Pronera nos dá oportunidade de estudar. Não é apenas teoria, é colocar em prática. É muito importante para nós”, define o futuro agrônomo Celso Barbosa Junior.

 

PROJETO: QUARTA TURMA ESPECIAL DO CURSO DE AGRONOMIA / COORDENADORA: Tarita Cira Deboni / tarita.deboni@uffs.edu.br / UFFS / Campus Erechim (RS) / 20 professores

 

* Esta reportagem faz parte da edição 15 da Revista da Fapeu, que está disponível na íntegra em https://tinyurl.com/RevistaDaFapeu

 

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