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Projeto da UFFS pesquisa origens de quilombos e assentamentos de SC

Um projeto de pesquisa desenvolvido pelo campus de Chapecó da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) está desbravando o passado de conflitos de áreas quilombolas e de assentamentos em Santa Catarina, mais especificamente nas regiões Oeste e Meio-Oeste do Estado. O objetivo é investigar o processo de organização de movimentos sociais rurais no território catarinense, além de oferecer alternativas para o desenvolvimento do turismo histórico-cultural, bem como viabilizar uma perspectiva crítica na formação de professores da rede pública de ensino.

O projeto “Nas trilhas da História, Memória e Arqueologia dos conflitos na Fronteira Sul” conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu). “O papel da Fapeu é relevante, pois realiza a gestão financeira dos recursos do projeto”, destaca o professor Émerson Neves da Silva, coordenador dos trabalhos.

O projeto começou em outubro de 2023 e tem duração prevista de dois anos. Os estudos realizados pela equipe do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Agrários, Urbanos e Sociais (Nipeas) da UFFS estão concentrados no assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Santa Rosa III; nos quilombos Invernada dos Negros e Campos Poli; e na comunidade de Taquaruçu.

CONTESTADO

O assentamento Santa Rosa III fica em Abelardo Luz, cidade que possui a maior concentração de assentamentos da reforma agrária do Sul do Brasil, onde vivem aproximadamente 1,5 mil famílias em 22 assentamentos. E os quilombos Invernada dos Negros e Campos Poli e Taquaruçu estão localizados, respectivamente, em Campos Novos, Monte Carlo e Curitibanos, municípios do Meio-Oeste catarinense onde ocorreram episódios, entre os anos de 1912 e 1916, da Guerra do Contestado.

“O projeto surge a partir da análise histórica do longo processo da presença das relações de colonialidade na nossa sociedade, o que explica os conflitos agrários, como, por exemplo, a Guerra do Contestado, a luta pela reforma agrária e pelos territórios quilombolas”, relata o professor Émerson Neves da Silva. “As experiências de resistências sociais pesquisadas pelo projeto ajudam a compreender as especificidades e questões comuns na formação histórica de distintos movimentos rurais em Santa Catarina”, acrescenta o coordenador.

Localizado na comunidade de Corredeira, distrito de Ibicuí, em Campos Novos, o Quilombo Invernada dos Negros foi reconhecido em 2 de abril de 2004 pela Fundação Cultura Palmares como remanescente de quilombo. Foi a primeira comunidade quilombola de Santa Catarina a receber a certidão de reconhecimento, que foi concedida à Comunidade dos Herdeiros da Invernada dos Negros. Também foi, em 2008, o primeiro território quilombola reconhecido pelo Incra em Santa Catarina. O local entrou para história por ser legado do fazendeiro Matheus José de Souza e Oliveira, que, casado com Pureza Emilia da Silva mas sem filhos, declarou em testamento, de 12 de abril de 1876, a liberdade de seus escravos e deixou-lhes, quando falecesse, a terça parte de sua herança em campos e lavouras.

Já o Quilombo Campos Poli, em Monte Carlo, foi certificado pela Fundação Cultural Palmares como remanescente de quilombo em 12 de fevereiro de 2007. A história da área remonta ao século 18, sendo caracterizada à época como território marcado pelo tropeirismo e uso de mão de obra escrava. A denominação do quilombo teria vindo da abreviação do sobrenome Apolinário, antepassados estabelecidos na região, mas que acabaram expulsos do local por volta dos anos 1950 para exploração de madeira nativa para fins comerciais.

LIVRO

Localizada no atual município de Curitibanos, a Comunidade Taquaruçu está tragicamente ligada à Guerra do Contestado. Considerada à época como uma “cidade santa”, foi atacada em 8 de fevereiro de 1914 por 700 soldados de Santa Catarina, do Paraná e do governo federal equipados com artilharia pesada, como canhões, granadas e metralhadoras. O alvo eram famílias sertanejas consideradas pelas forças militares como traidoras da pátria.

A equipe de trabalho é formada por 10 docentes e seis alunos da UFFS. Ao final, em outubro de 2025, a proposta do grupo é, além de contribuir com estudos científicos sobre o patrimônio cultural catarinense, produzir dois artigos científicos, produzir um livro paradidático e um espaço virtual para compartilhamento do conhecimento levantado na pesquisa.

PROJETO: NAS TRILHAS DA HISTÓRIA, MEMÓRIA E ARQUEOLOGIA DOS CONFLITOS NA FRONTEIRA SUL / COORDENADOR: Émerson Neves da Silva / emerson.silva@uffs.edu.br / UFFS / Campus Chapecó / 9 participantes

* Esta reportagem faz parte da edição 15 da Revista da Fapeu que está disponível na íntegra para download em https://tinyurl.com/RevistaDaFapeu

 

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