O Brasil tem na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) um grupo de pesquisadores que são referência na identificação de agentes causadores de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e no estudo da resistência desses microrganismos a drogas que os combatam.
O trabalho é desenvolvido pelo Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia (LBMMS) da UFSC em parceria com o Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. Coordenado pela professora Maria Luiza Bazzo, o projeto “Vigilância da resistência do gonococo aos antimicrobianos e da etiologia das uretrites e úlceras genitais no Brasil” conta com a gestão financeira da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).
“A Fapeu sempre tem uma grande importância nos projetos desenvolvidos no LBMMS, e nesse caso não é diferente. A gestão dos recursos, realização das compras dos insumos e demais tarefas é sempre feita com profissionalismo e competência. Os canais de comunicação com os colaboradores do LBMMS estão sempre abertos, o que gera agilidade na execução das demandas e assertividade nas tomadas de decisões administrativas”, destaca a professora. “A parceria bem-sucedida entre Ministério da Saúde e LBMMS, por meio da gestão financeira da Fapeu, está possibilitando a continuidade deste projeto de vigilância nacional e a melhora constante da pesquisa. Estamos no meio de uma nova rodada de vigilância da resistência e, pela primeira vez, serão analisadas amostras obtidas de outros sítios anatômicos, além da uretra masculina”, destaca a professora.
Avanços
Desde a década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a vigilância da resistência de Neisseria gonorrhoeae (gonococo) aos antimicrobianos. O primeiro estudo de vigilância nacional desta resistência, já realizado em parceria com a Fapeu, foi finalizado em 2017. Naquela versão foram coletadas amostras em Belo Horizonte, São Paulo, Manaus, Brasília, Florianópolis, Porto Alegre e Salvador.
Para o segundo estudo houve uma ampliação dos centros de saúde nacionais que realizam a coleta das amostras. Os locais passaram de sete para 12 com a inclusão das cidades de Curitiba, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Recife e Natal.
Além da resistência ao gonococo, a segunda rodada incluiu a detecção, por biologia molecular, de outros microrganismos causadores de ISTs em amostras de uretrites e úlceras genitais. A detecção dos microrganismos, como bactérias, vírus ou protozoários, foi realizada com a utilização de kits comerciais da empresa Seegene que detectam sete patógenos diferentes em cada tipo de amostra.
Publicação
Parte dos resultados deste estudo foi publicado em 2022 no Journal of Antimicrobial Resistance, no artigo “National surveillance of Neisseria gonorrhoeae antimicrobial susceptibility and epidemiological data of gonorrhoea patients across Brazil, 2018–20” (Vigilância nacional da suscetibilidade antimicrobiana de Neisseria gonorrhoeae e dados epidemiológicos de pacientes com gonorreia em todo o Brasil, 2018-20). Os resultados mostraram um aumento na resistência do gonococo à azitromicina, um dos antimicrobianos utilizado no tratamento de ISTs.
O segundo estudo também propiciou o início da detecção etiológica de outros microrganismos, como o Mycoplasma genitalium, uma bactéria associada a uretrites em homens e ao aumento de risco para aborto espontâneo, parto prematuro, doença inflamatória pélvica e infertilidade em mulheres, o que trouxe uma preocupação mundial a respeito da resistência dessa bactéria aos antimicrobianos. “Este caminho nos mostrou a importância de estudar resistência aos antimicrobianos, especialmente em Neisseria gonorrhoeae e agora em Mycoplasma genitalium”, observa a professora Maria Luiza.
Mutação
Para a Mycoplasma genitalium, pesquisadores do LBMMS estão realizando estudos de genes de resistência e utilizando sequenciamento do material genético do patógeno para identificar e analisar as mutações em genes que conferem resistência aos antimicrobianos. Este trabalho é realizado em parceria com o Laboratório de Bioinformática do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) do Centro de Ciências Biológicas (CCB).
Em relação à resistência em Neisseria gonorrhoeae, a equipe utiliza métodos de indução à resistência que mostram o comportamento da bactéria sob pressão seletiva do antimicrobiano in vitro. Um estudo desenvolvido no LBMMS gerou uma publicação na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology no artigo “In vitro selection of Neisseria gonorrhoeae unveils novel mutations associated with extended-spectrum cephalosporin resistance” (A seleção in vitro de Neisseria gonorrhoeae revela novas mutações associadas à resistência a cefalosporinas de espectro estendido), que revelou um rápido desenvolvimento de mutações que causam resistência em Neisseria gonorrhoeae quando exposta a um antimicrobiano. Nesta mesma linha de pesquisa, outra tese está sendo desenvolvida no laboratório.
Equipe
As atividades são desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar. Farmacêuticos, bioquímicos, biólogos, médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e de enfermagem atuam nos projetos. São pelo menos 40 profissionais, além dos estudantes de graduação e pós-graduação. Na UFSC estão envolvidos no projeto, além da professora Maria Luiza Bazzo, também os pesquisadores Marcos André Schörner, Jéssica Motta Martins, Hanalydia de Melo Machado, Fernando Hartmann Barazzetti, Felipe de Rocco, Ketlyn Buss, Mara Cristina Scheffer, Jhonatan Augusto Ribeiro, Julia Kinetz Wachter, Henrique Borges Grisard, Manoela Valmorbida, Clarice Iomara Silva e Maria Aparecida Rosa Cunha Cordeiro.
O projeto de vigilância da resistência do gonococo é uma parceria do LBMMS com o Ministério da Saúde, e com quem são feitas parcerias pontuais para projetos de resposta mais rápida, como os de detecção de ISTs em gestantes e HPV em mulheres vivendo com HIV/aids. Em todas essas situações, o LBMMS tem sido o laboratório de referência.
Uma destas parcerias tornou possível o recebimento de um equipamento, considerado pela OMS o padrão-ouro, para detecção de ISTs por biologia molecular, o que leva o Brasil a produzir resultados comparáveis internacionalmente. Este equipamento foi o primeiro instalado no Brasil e o único no mercado a oferecer automação em biologia molecular pela metodologia de amplificação mediada por transcrição, a qual faz a detecção do RNA do microrganismo e torna a técnica mais sensível. O aparelho, chamado Panther, atualmente, ocupa uma sala exclusiva no LBMMS da UFSC.
Além dos trabalhos, atendimentos e produção científica, o LBMMS também contribui na formação de novos profissionais. “Nosso laboratório está sempre de portas abertas para alunos que se interessem pela área. Muitos destes acabam desenvolvendo trabalhos de conclusão de curso, teses e dissertações”, ressalta a coordenadora do laboratório.
PROJETO: VIGILÂNCIA DA RESISTÊNCIA DO GONOCOCO AOS ANTIMICROBIANOS E DA ETIOLOGIA DAS URETRITES E ÚLCERAS GENITAIS NO BRASIL / COORDENADORA: Maria Luiza Bazzo / marialuizabazzo@gmail.com / UFSC / Departamento de Análises Clínicas / CCS / 14 participantes
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